Um oceano de areia estendia-se sob seus pés. O sol era seu único companheiro há muitos dias, e já não se lembrava mais da última vez em que seus lábios tocaram água fresca. Seu rosto, seus pés, sua mente lhe doíam.
Os mascates que haviam cruzado o seu caminho haviam levado seus únicos bens: uma jarra cheia d'água e o salário de uma quinzena. Antes isso do que o ar de seus pulmões, pensou Farid.

Então, bebia da mesma água que seus camelos.

_ Por Alilat, em que poço amaldiçoado enchi meu cântaro!...

Depois de algumas horas, descansou à sombra de uma duna. A noite não tardaria a chegar, agora. Apenas a luz das estrelas poderia lhe dizer seu caminho.

Adormeceu antes da primeira estrela tocar os céus.

O cheiro de mel e pão fresco fazia cócegas em seu nariz. O toque da seda acalentava seu corpo cansado. O som da água pura escorria para dentro de seus ouvidos.
Abriu os olhos do modo mais suave que podia.

_ Que eu só acorde quando minha barriga se encher - pediu Farid.

Podia ver uma luz suave que flutuava a sua volta, como se o último raio de sol não quisesse se pôr. Podia ver a lua fina, tão baixa no céu que parecia tocar a duna mais ao longe. Seus camelos descansavam às margens de um pequeno lago de águas muito azuis. Várias almofadas estavam expalhadas pelo chão, e agora percebia que estava sob o teto de uma tenda. Uma cama de lençóis de seda estendia-se até uma comprida mesa, repleta de comida, bebida e flores.

Farid sentiu lágrimas de alegria encherem-lhe os olhos. Levantou-se lentamente, temendo que tudo desaparecesse diante de si. Aconchegou-se pelo canto direito da mesa: manjar e trufas de amoras silvestres lhe sorriam. Taça e cântaro do mais suave vinho lhe brindavam.

_ Um banquete digno de reis! - exclamou, feliz.

Provou uma trufa: era a coisa mais maravilhosa que já havia provado. Desmanchava-se em sua boca como as nuvens do céu após uma tempestade. Provou o manjar, tomou um gole do vinho. Dois goles, e um terceiro.

_ Alegra-me ver que estás satisfeito, Farid.